segunda-feira, 29 de abril de 2013

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Curiosidades do São João - Quadrilhas Juninas

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fotos: Paulo Mafe

As danças campestres da Normandia e da Inglaterra, no século XVIII, foram o grande berço das quadrilhas juninas. No século XIX, dos salões nobres das cortes francesas, a dança espalhou-se por todo o continente europeu, chegando ao Brasil com os portugueses ainda com características aristocráticas. Num dinâmico processo de apropriação e ressignificações inerentes às expressões culturais, a quadrilha foi se configurando com características bastantes especiais. Retorna ao campo, fazendo parte dos festejos populares, geralmente ligados às celebrações do período junino.

O Processo migratório campo-cidade traz a quadrilha “matuta” para os centros urbanos, e transporta a ideia de uma dança de origem caipira, com a figura do matuto com chapéu de palha, camisa xadrez, bigode, dente pintado de preto e calça remendada, e as mulheres com vestidos estampados, alguns remendados e cabelos arrumados em formato de tranças. Personagem exóticos, que reforçam  os preconceitos e estereótipos sobre a vida virtual, numa caracterização exagerada.  Essa forma caricatural de ver a quadrilha esbarra com a dinâmica do tempo histórico e com o contexto sociocultural do Nordeste, particularmente no Recife, que apresenta um novo modelo para o brinquedo, modificado esteticamente e no próprio conteúdo da manifestação. Segundo o historiador Hugo Menezes, a partir dos anos  1980, o Recife vivencia um período marcado pelas continuidades e mudanças. “É a época em que saem às ruas as primeiras quadrilhas estilizadas. Quadrilhas diferentes que aos poucos abandonam a representação caricatural recorrendo a uma releitura das vestes comuns à época da corte, preocupando-se sempre com a junção dos elementos representativos na cultura nordestina.

A musicalidade incorpora novos ritmos, algumas vezes fugindo do gênero forró; as coreografias passam a ser ensaiadas e executadas de acordo com a música, não dependendo mais das ordens do marcador. Foi um momento laboratorial, de permissão para experimentar cores, músicas, formas e ações, exercitar a criatividade e expor a dinamicidade das culturas populares, com várias formas de ser e fazer”.
Na década de 1990, continua Menezes, é a vez de o recriado vir à tona como uma nova proposta. Foi um período de mudanças significativas para a montagem das quadrilhas que passam gradativamente a buscar nas pesquisas sobre o imaginário nordestino e mais especificamente do ciclo junino, a base para a montagem do espetáculo. Todos os elementos apresentados passam a relacionar-se com um tema previamente escolhido e pesquisado.

A preparação de uma quadrilha transforma num verdadeiro ritual, renovado anualmente com a criação de um novo tema e um novo São João.  Com o novo tema escolhido, as ideias se expressam em sons, cores, ritmos, figurinos, adereços e infinitos tecidos e variados materiais, relações heterogêneas que se sucedem e culminam numa ação maior. São meses de trabalho constante. Extrema dedicação. O esforço conjunto é a principal características dos momentos de encontro, seja para ensaiar as coreografias, comprar tecidos, cortar, bordar, pintar os adereços, captar recursos e etc. um verdadeiro espaço de sociabilidade. 
Cada grupo possui sua identidade própria, que se traduz no formato do figurino, no estilo das coreografias, nas cores utilizadas, na atuação do marcador, entre outros aspectos que levados para os arraias os referendam historicamente e os legitimam. É assim com a Origem Nordestina, Lumiar, Traquejo, Raio de Sol, Traque de Massa, Dona Matuta, Zabumba, Terror do Alto, Tradição entre tantos outros grupos do Recife, Região Metropolitana e Interior.

Fonte: RIBEIRO, Mário.  Cartilha Ciclo Junino – Prefeitura do Recife  / Secult / Fundação de Cultura do Recife, 2008.  



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