A ideia primeira de criar a Quadrilha Junina Tradição nasceu numa mesa de bar entre conversas e sonhos de quatro amigos (Fabiano Ferreira, Mauricio Francisco, Ademário Ferreira (Xoxo) e Jimmy Glauber) moradores do Morro da Conceição, Recife. O pensamento só se concretizou, em 04 de fevereiro de 2004, quando se somaram ao grupo, os primos Joselito Costa e Perácio Jr. E os amigos Gildo Alencar, Anderson Gomes, Cleyton Santos (Buda), Sandro Sá, Diogo Luís, Adeilda (Tetei) e Lúcia (Nena), todos dissidentes da Quadrilha Origem Nordestina da mesma localidade. O nome foi inspirado na escola de samba Tradição do Rio de Janeiro, que também foi fundada a partir da dissidência com outra escola.
"No início foi tudo muito difícil, faltavam espaço para ensaios, recursos financeiros, componentes, mãe de obra especializada [...] e o principal, a credibilidade das pessoas [...] mas a Tradição tinha o essencial: a coragem e a força de vontade de um grupo de pessoas que tinha a certeza que era possível fazer uma quadrilha democrática onde todos e todas pudessem ter vez e voz. Uma quadrilha que contribuísse na superação dos problemas comunitários e que a produção artística cultural fosse algo construído coletivamente" ressalta Joselito Costa, presidente da Tradição.
A experiência adquirida na "Origem Nordestina" ajudou na condução dos trabalhos com o novo grupo. Os dançarinos passaram a desenvolver outras habilidades, novos talentos foram revelados, "surgindo grandes coreógrafos, projetistas, figurinistas, cenógrafos, compositores, marcadores, tudo o que precisava para colocar uma quadrilha junina na rua" dia Joselito.
Foto: Paulo Mafe
A Tradição reúne um público bastante diversificado, com faixa etária que varia entre 15 e 50 anos. São mulheres, homens, crianças, adolescentes, jovens e adultos, com destaque para o grande número de homossexuais, que encontra na quadrilha um espaço de respeito mútuo e valorização das suas potencialidade artísticas. Nesse sentido, fazer parte da família Tradição é sentir-se pertencente à comunidade do Morro da Conceição, um espaço, que a pluralidade dos seus talentos, trava uma batalha diária contra a violência, as drogas, a prostituição e o preconceito de residir em morros, pelo poder de enunciação dos moradores da comunidade e do entorno, pois desenvolve e promove visibilidade às potencialidades artísticas da localidade, cuja expressão maior é manisfestada no período do São João e das Festa do Morro, em dezembro. " A Quadrilha é um espaço cultural atraente e que envolve a juventude, preenchendo o seu espaço ocioso e favorecendo as descobertas de suas potencialidades e a elevação de sua auto estima. É um espaço onde a juventude se sente valorizada e se reconhece como artista, como alguém que independente de sua situação sócio-econômica tem algo de muito valioso para sua comunidade e isso tem feito toda a diferença. As relações de amizades e os vínculos afetivos construídos na Tradição são de fundamental importância no combate a violência, pois os adolescentes e jovens não se sentem mais sozinhos sentem-se acolhidos pela família junina Tradição" diz Joselito.
Foto: Paulo Mafe
A estrutura organizacional da quadrilha gira em torno de aproximadamente 20 pessoas, que envolve: o presidente e o vice, o 1ª e o 2ª tesoureiro, 1ª e 2ª secretários, além dos diretores que ocupam funções específicas, como: diretor de ensaio (que trata de todas as questões referentes aos ensaios), diretor de produção (responsável pela construção dos cenários e dos adereços até a sua utilização nos arraiais), diretor de tema (conhecido como projetistas junino, responsável pela pesquisa e desenvolvimento do tema), os dançarinos, os contrarregras, coreógrafos, compositores e cantores do repertório, figurinistas, diretor teatral (responsável por escrever o texto e dirigir o casamento junino), marcador, entre outros.
Foto: Paulo Mafe
A montagem do espetáculo "é fruto de um longo processo de pesquisa que se inicia com um ano de antecedência. primeiro montamos uma comissão de tema que juntamente com o diretor de tema vai definir o que tem a ser abordado no São João. Depois se incia uma pesquisa aprofundada sobre o tema escolhido, e a partir daí começam ser construídas as primeiras propostas de figurino, cenário, adereços, letras de músicas, texto do casamento, coreografias, de confeccionar o figurino, de construir o cenário, de gravar as músicas no estúdio etc Depois que estudo está pronto, é hora da melhor parte, a estreia"
Foto: Paulo Mafe
Eliminatória Rede Globo Nordeste 2012 - Quadrilha Junina Tradição
Fonte: Livro “Nos Arraiais da Memória – as quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias” – Mario Ribeiro do Santos / (Secult / Fundação de Cultura do Recife 2010)