segunda-feira, 27 de maio de 2013

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Mergulho afro no Recife

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Ritmo musical afoxé e gastronomia de herança africana são as principais atrações do terreiro de candomblé / Felipe Ribeiro / JC Imagem
Ritmo musical afoxé e gastronomia de herança africana são as principais atrações do terreiro de candomblé

                                                                                      Felipe Ribeiro / JC Imagem

Viajar, hoje em dia, não significa apenas contemplar paisagens. Os novos desejos dos viajantes de vivenciar situações autênticas em destinos diferentes têm sido assimilados por diversas empresas do setor turístico, através de planos diferenciados com foco no turismo de experiência. Roteiros em que a ideia de viagem é trocada pelo conceito de vivência já estão disseminados por São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades do mundo. 
Em Pernambuco, o fator carpe diem acaba de aportar com a agência de viagens Loa, que está há pouco mais de um mês no mercado. A empresa se propõe a levar viajantes para conhecer lugares pouco conhecidos nos passeios turísticos tradicionais na capital e no interior do Estado, como mercados públicos, terreiros de candomblé e fazendas de café.
E para dar o pontapé na proposta, a Loa levou curiosos para conhecer, no início do mês, o terreiro de candomblé Ilê Axé Ogbon Obá, que fica na Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife. 
Os curiosos puderam conhecer o funcionamento do terreiro, narrado pelo líder espiritual Pai Everaldo, e saborear as comidas típicas do universo afrobrasileiro, temperadas pelas mãos da iabassê e chef Carmen Virgínia, mais conhecida por lá como Dona Carmen. 
Ela apresentou ao grupo a história dos orixás através de uma sequência de 13 pratos típicos do candomblé, como feijoada, sarapatel e acará. O orixá da paz, Oxalá, por exemplo, teve a sua história contada através do arroz branquinho. Branco é cor da tranquilidade. 

Mas, antes de chegar ao Ilê Axé Ogbon Obá, situado em uma região mais alta da Bomba do Hemetério, o grupo foi levado para conhecer os caminhos e descaminhos do bairro periférico, reduto de reconhecida efervescência cultural da cidade. Ao primeiro olhar, é difícil imaginar que, nas ruas estreitas e malcuidadas da Bomba, surgiram movimentos e grupos culturais significativos, como o Maracatu Nação Elefante, o mais antigo de Pernambuco, e a não menos famosa Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, do Maestro Forró.
Após o breve tour pelo bairro, os participantes chegaram ao aparentemente pouco acessível Ilê Axé Ogbon Obá. Ainda fora da casa, os visitantes foram recebidos pelo grupo de afoxé de lá e puderem ouvir o canto em iorubá do Pai Everaldo. Mas, logo em seguida, gritou do interior do terreiro Dona Carmen: “Chama o povo para entrar, homem!” No turismo de experiência, tenha certeza, improvisação é sinal de qualidade.
“É que a gente vive no ritmo dos orixás, que é bem mais lento que o das pessoas comuns”, justifica o Pai Everaldo, correndo para lá e para cá, ajustando-se ao ritmo dos seres da Terra.

O grupo de afoxé agora estava completo, com nove jovens e quatro garotas, todos vestidos com roupas nas cores dos orixás. Muita música e dança ocupavam, então, o salão principal do terreiro, enquanto as panelas eram colocadas e retiradas do fogão, cheias de temperos fortes, cheirosos, carregadas de dendê. 
Depois de aquecer os visitantes com o que há de mais vivo na cultura de terreiro – o som dos tambores –, o Pai Everaldo deu uma miniaula sobre o candomblé e falou um pouco sobre a história do lugar, que existe há 30 anos. “Nosso papel aqui na Terra é para se melhorar e ajudar o próximo”, diz ele, tentando resumir a complexidade da religião. Em seguida, apresentou a parte sagrada do terreiro, onde acontecem as penitências, os agradecimentos, as oferendas e todos os outros rituais mais íntimos da religião.

Fonte: Jc online


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